Dra. Silvia Joly Mattos
Como já escrevi no meu artigo sobre “Falha de Implantação embrionária”, para que uma gestação ocorra, independentemente se de forma natural ou por reprodução assistida, é necessário que o embrião apresente boa capacidade de implantação e que o endométrio também esteja receptivo a ele.
Sendo assim, quando casais fazem a FIV e não engravidam, mesmo tendo um embrião de qualidade e tendo excluído todas as possíveis causas de falha de implantação embrionária, pode ser que o problema esteja no que chamamos de deslocamento da janela de implantação.
Em um processo normal, o óvulo é fertilizado pelo espermatozoide nas trompas, o embrião que foi gerado é transportado para o útero e chega para se implantar no endométrio. Todas essas etapas já ocorreram em cinco dias, período em que o ovário produz a progesterona que irá por sua vez tornar o endométrio receptivo ao embrião para que o mesmo consiga se implantar entre 24 e 36h (janela de implantação).
No entanto, para pacientes com deslocamento da janela de implantação, o ciclo apresenta atividade hormonal diferente da convencional, ou seja, o embrião não consegue se implantar aproveitando a janela.
Com o avanço da medicina foi desenvolvido um teste de avaliação endometrial que tem como objetivo identificar essa janela de implantação. O teste ERA (Endometrial Receptivity Array) avalia a receptividade endometrial do ponto de vista molecular, nos permitindo diagnosticar se o endométrio é receptivo ou não analisando a expressão de um grupo de genes responsáveis por isso.
Em caso de resultado receptivo, significa que a janela de implantação está de acordo com o dia que foi realizado a biópsia, podendo ser o embrião implantado durante este período.
No entanto, se o resultado for não receptivo, significa que a janela de implantação é deslocada, podendo ser o endométrio pré ou pós-receptivo. Para endométrio pré-receptivo, indica que será necessário o uso de progesterona por mais dias para que a janela de implantação ocorra. Mas, se o endométrio é pós-receptivo, a transferência do embrião deve ser realizada com menos dias de progesterona.
Portanto, o teste ERA permite que se tente uma melhor programação do dia da transferência embrionária, aumentando assim as chances de sucesso da próxima gestação.
Dra. Silvia Joly Mattos é médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia formada pela Unicamp, com Mestrado na área de Infertilidade pela Unicamp e especialista em Reprodução Assistida com Título reconhecido pela Febrasgo.