Estudos e carreira levam mulheres a postergar a maternidade

Dra. Sílvia Joly Mattos – Com o passar do tempo o papel feminino na sociedade foi mudando. A dedicação integral à família deu lugar a partir da década de 70 à entrada da mulher no mercado de trabalho, e ela passou a ter novas prioridades e a postergar o casamento e a maternidade para se dedicar mais aos estudos e ao aperfeiçoamento em sua carreira profissional.

Os números estão aí para confirmar essa grande mudança de comportamento da mulher. De acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, o número de mulheres que engravidaram entre 35 e 39 anos nos últimos 20 anos aumentou 71%. Entre 1998 e 2017, houve um aumento de 50% no número de mulheres que engravidaram entre 40 e 44 anos, enquanto o nascimento de bebês com mães entre 20 e 29 caiu 15%.

Esses dados comprovam que as mulheres antes de engravidar preferem ter estabilidade profissional, financeira e pessoal. Por um lado, isso é muito bom porque a mulher está mais preparada em todos os aspectos, como econômico, social e psicológico, para encarar a maternidade. Mas do ponto de vista biológico quanto mais adia a gravidez mais difícil pode ser a realização desse sonho.

A melhor idade para a mulher tentar engravidar é até os 35 anos, já que a fertilidade feminina diminui com o passar dos anos, especialmente após os 35 anos. Ocorre uma queda mais acentuada na quantidade dos óvulos, e também na qualidade deles, trazendo mais riscos de aborto ou mesmo de doenças genéticas ao bebê. Isso sem levar em conta o maior risco de doenças como pré-eclâmpsia e diabetes para a mãe, principalmente após os 40 anos.

Com relação à fertilidade, entre 25 e 30 anos as chances de gravidez são de 18% ao mês e entre 36 e 40 anos as chances caem para 9% ao mês, o que não quer dizer impossibilidade de gravidez, mas maior dificuldade.

Dependendo da profissão escolhida, entre os 30 e 35 anos é quando a mulher está começando a alavancar sua carreira. Outro fator a se levar em conta é o relacionamento estável, que muitas vezes não é o objetivo da mulher antes dos 35 anos. Em termos de relacionamento, sabemos que os jovens de hoje em dia querem curtir mais a vida antes de assumir compromissos importantes, como casamento e filhos.

O que fazer então nessa etapa da vida em que o relógio biológico começa a preocupar a mulher? Atualmente, com os avanços da medicina e as técnicas de reprodução assistida mais acessíveis, as mulheres têm optado por uma alternativa muito interessante que é a preservação da fertilidade por meio do congelamento (criopreservação) de óvulos. Isso significa garantir óvulos de qualidade para uma gestação futura através da fertilização in vitro.

Para o processo de congelamento de óvulos, a técnica utilizada atualmente é a vitrificação. Ela consiste no resfriamento de gametas femininos através do nitrogênio líquido a uma temperatura de 196º negativos, o que permite a solidificação sem a formação de gelo (cristalização). Com essa técnica, as taxas de sobrevivência do óvulo após o descongelamento são muito altas.

O procedimento consiste em avaliação médica, realização de exames sorológicos, estimulação da ovulação, aspiração folicular com captura dos oócitos, criopreservação dos mesmos e por fim manutenção dos oócitos criopreservados.

Todo esse processo de preservação da fertilidade garante à mulher a possibilidade de conquistar a sonho da maternidade no momento desejado.

Dra. Silvia Joly Mattos é médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia formada pela Unicamp, com Mestrado na área de Infertilidade pela Unicamp e especialista em Reprodução Assistida com Título reconhecido pela Febrasgo.