Dra. Sílvia Joly Mattos
Tem um ditado que diz que a natureza é sábia. Realmente, são diversos os mecanismos existentes na natureza que agem no sentido de preservar a integridade biológica de uma espécie. O aborto espontâneo é um desses mecanismos. O aborto espontâneo é definido como perda fetal antes de 22 semanas de gestação ou perda do feto com peso inferior a 500 gramas. Trata-se de uma adversidade frequente, mas é importante salientar que os riscos de repetição aumentam conforme o avanço da idade da mulher.
O aborto recorrente ou de repetição (AR), como também é conhecido, é classificado dessa forma após três episódios consecutivos, podendo ter suas causas anatômicas, genéticas, cromossômicas, ambientais, infecciosas, endócrinas ou até imunológicas. No entanto, em cerca de 40 a 50% dos casos nenhuma causa é identificada.
Entretanto, sabemos que a maioria das causas idiopáticas (não identificadas) trata-se de embriões alterados geneticamente. A causa genética pode ser por alterações dos cromossomos (a grande maioria) ou dos genes. Dentre as cromossômicas, existem as alterações numéricas (alteração no número de cromossomos) ou estruturais, ou seja, alteração na estrutura de um ou mais cromossomos. Por exemplo, a conhecida Síndrome de Down trata-se de uma alteração cromossômica numérica, onde existe um cromossomo “extra” de número 21, ou seja, existem 3 ao invés de 2 como o usual (Trissomia do 21). Isso normalmente ocorre devido a uma divisão celular anormal.
Após a investigação, em alguns casos existe a indicação da realização de tratamento de alta complexidade em Reprodução Assistida, como a FIV (Fertilização in vitro). E desses casos, em alguns há indicação do diagnóstico pré-implantacional e transferência dos embriões não afetados por alguma anomalia pré-existente do casal.
Portanto, dentro da Reprodução Assistida, a investigação de abortos recorrentes é muito importante para a indicação de um tratamento mais seguro.
Dra. Silvia Joly Mattos é médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia formada pela Unicamp e especialista em Reprodução Humana pelo Projeto Alfa