Dra. Sílvia Joly Mattos
“Crescei e multiplicai-vos”. Cristão ou não, todo mundo já deve ter ouvido essa frase bíblica. Desde que nascemos somos condicionados e incentivados a ter como projeto de vida a construção de uma família, e os filhos certamente estão presentes nesse plano. No entanto, ao longo desse processo, alguns casais se deparam com a dificuldade para engravidar.
Em muitos casos, somente após muito tempo de frustação o casal procura ajuda de um especialista e, em algumas situações, há o diagnóstico da infertilidade. A notícia gera um impacto emocional muito grande, provocando uma sensação de perda (do filho idealizado por meios naturais) e de impotência, o que é natural e que faz parte de um ciclo de adaptação emocional a essa nova realidade.
Normalmente o ciclo emocional que os pacientes irão passar após o diagnóstico será:
1. Choque: Dificuldade de compreender o problema ou negando/duvidando/questionando as informações recebidas.
2. Raiva e revolta: Os sentimentos de desespero, inadequação dentro da sociedade, inferiorizarão e culpa abrem espaço para a raiva e a revolta por serem acometidos pela infertilidade. Geralmente nessa fase costumam procurar algo ou alguém para responsabilizar pelo problema.
3. Desorganização e sentimentos depressivos: Ficam desesperançosos quanto à possibilidade de o tratamento ser efetivo.
4. Reorganização: Enxergam e aceitam o problema com clareza e buscam as melhores formas possíveis para que o tratamento seja efetivo.
É extremamente importante durante todo esse processo que seja estabelecido um bom vínculo entre médico e paciente visando gerar uma relação de confiança e influenciar positivamente no tratamento.
Os pacientes que estão nesse processo também podem procurar a ajuda de um psicólogo especialista nesta área, que consegue trabalhar com o casal o alívio de ansiedades e angústias e ajuda a tomar decisões importantes.
Diante de tudo isso, durante séculos a medicina tomou como objeto de estudo somente o corpo físico, separando assim o corpo da mente, mas como o homem é uma unidade integrada, podemos afirmar que alterações do corpo podem influenciar a mente e vice-versa. Sendo assim, desejos insatisfeitos, conflitos mal elaborados, emoções fortes e transtornos mentais (depressão, ansiedade, estresse, fobias, angústias, TOC, anorexia e bulimia) podem piorar muito o quadro de infertilidade.
Por isso, nós como especialistas em Reprodução Assistida, temos de ter essa compreensão do problema e ajudar os casais no sentido de buscarem não só o tratamento médico, mas também o psicológico.
Dra. Sílvia Joly Mattos, de Campinas/SP, é médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Reprodução Humana e Vídeo-Histeroscopia.