Essa semana fui pega de surpresa com um monte de perguntas de pacientes e amigas sobre a criopreservação de óvulos (conhecida também como congelamento de óvulos ou preservação da fertilidade) para a Fertilização in Vitro (FIV) no futuro. Todas estavam querendo esclarecer dúvidas após assistirem à reportagem que o Fantástico exibiu no domingo sobre fertilidade. Alguns dos assuntos abordados na matéria já foram relatados aqui no meu Blog, mas vou comentar um pouco mais aproveitando essa série do Fantástico, que realmente parece muito esclarecedora.
Uma coisa muito importante falada no programa e que precisa sempre ser destacada é a idade da mulher. Nós já nascemos com um determinado número de óvulos que durará durante toda nossa vida fértil e, a cada menstruação, um desses óvulos não fecundado é eliminado. Ou seja, o estoque vai acabando, assim como vai perdendo sua qualidade à medida que envelhece. O que fazer, então, já que a melhor idade para ter filhos, por volta dos 25-30 anos, não é a ideal para o modelo de sociedade em que vivemos?
É nessa idade que a mulher quer se dedicar à carreira, viajar, curtir a vida, aproveitar os anos de solteira ou mesmo de recém-casada… Os filhos, então, ficam para depois. Mas esse depois não deve ser tão tarde. Para a criopreservação de óvulos, por exemplo, o ideal é que a mulher tenha no máximo 35 anos. Essa é uma alternativa muito interessante e acessível. Vale a pena ressaltar que a criopreservação de óvulos é um tratamento de custo inferior ao da FIV convencional, ao contrário do que muitas mulheres pensam, já que a fertilização do óvulo acontece no futuro.
Também vale ressaltar que a criopreservação não é uma garantia de 100% de que a mulher será mãe no futuro. Porém, é uma alternativa a mais, pois não congelar os óvulos pode significar, em algumas situações, o fim desse sonho após os 40 anos.
Outra indicação para a criopreservação de óvulos ocorre em mulheres que passarão por tratamentos oncológicos. Alguns destes tratamentos podem diminuir a reserva ovariana, portanto a criopreservação pode preservar sua fertilidade.
Hoje, vemos muitas mulheres com 40 anos que estão na plenitude de sua vida, jovens, saudáveis, bonitas, mas do ponto de vista da fertilidade já estão “velhas”. É sobre isso que precisam estar conscientes.
E é por esta razão que é muito importante que a mulher também faça avaliação da reserva ovariana quando não consegue engravidar naturalmente depois de 6 meses de tentativas, após os 35 anos. A reserva ovariana fornece uma estimativa da quantidade de óvulos disponíveis no corpo da mulher para a fecundação. Esse é um fator que interfere diretamente na fertilidade. Existem 3 indicadores principais da reserva ovariana. O melhor e mais precoce é o Hormônio Antimulleriano (AMH), que pode ser dosado em qualquer fase do ciclo menstrual, e é independente da ação de outros hormônios. O AMH é medido através de exame de sangue.
Então, para as mulheres preocupadas com a maternidade, fica a dica: procure seu médico ginecologista e avalie sua reserva ovariana primeiro e, se quer ter filhos após os 35 anos, comece a pensar na possibilidade do congelamento de óvulos.
Apesar da reserva ovariana ser um fator importante a ser considerado e estar diretamente ligado à fertilidade, a baixa quantidade de óvulos disponíveis não é sinônimo de infertilidade. Se não for detectado nenhum outro fator de infertilidade, ainda há chances sim de uma concepção natural tardia.
Dra. Sílvia Joly Mattos, de Campinas/SP, é médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Reprodução Humana e Vídeo-Histeroscopia.