Dra. Sílvia Joly Mattos – Dedicado à campanha mundial de conscientização da infertilidade, o mês de junho desse ano traz uma preocupação a mais aos casais que precisam de tratamento para ter filhos: a pandemia da Covid-19. Isso porque, no início da pandemia, as sociedades médicas de Reprodução Assistida orientaram as clínicas especializadas a suspenderem os tratamentos de reprodução, dando continuidade apenas aos ciclos já iniciados.
Depois, sempre reavaliando a situação, houve uma nova orientação para que fossem feitos os tratamentos de casos em que a espera pelo tratamento pudesse trazer prejuízo ao futuro reprodutivo da mulher. Um dos exemplos disso são os casos de congelamento de óvulos em pacientes diagnosticadas com câncer, que receberão tratamento com quimioterapia, comprometendo seriamente sua fertilidade. É a chamada preservação de fertilidade oncológica. Outro exemplo são as mulheres com diminuição da reserva ovariana (“estoque” menor de óvulos disponíveis), quando o tratamento para gravidez se torna prioritário.
Muitos estudos mostram que o diagnóstico de infertilidade gera um processo de ansiedade e estresse intensos ao casal. E agora, nessa época de pandemia, em que todos nós estamos vivendo momentos de incertezas, os casais que sonham em ter filhos e dependem de tratamento estão ainda mais ansiosos do que o normal, especialmente a mulher, em que a idade é determinante.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera infértil um casal que mantém relações sexuais frequentes sem métodos contraceptivos durante 12 meses sem engravidar. Entretanto, a idade é um fator muito importante a ser avaliado para o início da investigação dos fatores que estão causando a infertilidade. Para mulheres de 35 anos ou mais, orienta-se que se inicie uma investigação após seis meses de tentativas sem sucesso.
Isso porque a queda do número de óvulos da mulher se torna progressiva no decorrer de sua, e se acentua após os 35 anos. Essa queda de fertilidade ocorre com o passar dos anos, não só pela quantidade, mas também pela qualidade dos óvulos, trazendo maiores riscos de aborto ou mesmo de doenças genéticas ao bebê. Isso sem levar em conta o maior risco de doenças como pré-eclâmpsia e diabetes para a mãe, especialmente após os 40 anos.
Embora em menor intensidade e mais tardiamente, a queda da fertilidade também atinge os homens com o avanço da idade, fazendo com que o volume e a motilidade de seus espermatozoides caiam em razão principalmente de fatores hormonais. Porém, como disse, ocorre em idade bem mais tardia.
A ansiedade, como já dito, é muito comum aos casais com o diagnóstico de infertilidade, mas com certeza se acentua em meio à pandemia, pela preocupação em postergar o tratamento. E esse adiamento ocorre por dois fatores principais. Primeiro, pelo fato de existirem restrições a vários tipos de tratamento nas clínicas de Reprodução Assistida, por orientações da ANVISA e Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, nesse período. E, segundo, pelo fator econômico devido à crise que o mundo está vivendo, que tem sido algo muito mais presente.
Mas é preciso ressaltar que a ciência está evoluindo sempre e que a Medicina Reprodutiva está cada vez mais acessível, sendo que para muitos casos são indicados tratamentos de baixa complexidade e baixo custo. E mesmo o congelamento de óvulos ou embriões para uma gestação futura tem sido uma opção para aumentar as chances de gravidez dos casais mais adiante.
Portanto, a mensagem principal é que a infertilidade tem tratamento na maioria dos casos, e que controlar a ansiedade também vai ajudar no processo, especialmente nesse momento de enfrentamento do coronavírus.
Dra. Silvia Joly Mattos é médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia formada pela Unicamp, com Mestrado na área de Infertilidade pela Unicamp e especialista em Reprodução Assistida com Título reconhecido pela Febrasgo.